O que é o senso comum?
TEXTO 01
Na
nossa vida cotidiana necessitamos de um conjunto muito vasto de conhecimentos,
relacionados com a forma como a realidade em que vivemos funciona: temos que
saber como tratar as pessoas com as quais nos relacionamos, temos que saber
como nos devemos comportar em cada uma das circunstâncias em que nos situamos
no nosso dia-a-dia: a forma como nos comportamos em nossa casa é diferente da
forma como nos comportamos numa repartição pública, numa balada, num cinema, na
escola, etc. Estamos também rodeados de sistemas de transporte, de informação,
de aparelhos diversos, com os quais temos que saber lidar. De fato, para
apanharmos uma ônibus, por exemplo, temos que saber muitas coisas: o que é um
ônibus e a sua função, como se entra num terminal, como se compra a passagem,
como devemos esperar o ônibus, etc.
Estes
conhecimentos, no seu conjunto, formam um tipo de saber a que se chama senso comum.
O
senso comum é um saber que nasce da experiência quotidiana, da vida que os
homens levam em sociedade. É, assim, um saber acerca dos elementos da realidade
em que vivemos; um saber sobre os hábitos, os costumes, as práticas, as
tradições, as regras de conduta, enfim, sobre tudo o que necessitamos para
podermos orientar-nos no nosso dia-a-dia: como comer à mesa, acender a luz de
uma sala, ligar a televisão, como fazer uma chamada telefônica, apanhar um
táxi, o nome das ruas da localidade onde vivemos, etc.,etc...
É,
por isso, um saber informal, que se adquire de uma forma natural (espontâneo),
através do nosso contato com os outros, com as situações e com os objectos que
nos rodeiam. É um saber muito simples e superficial, que não exige grandes
esforços, ao contrário dos saberes formais (tais como as ciências) que requerem
um longo processo de aprendizagem escolar.
O
senso comum adquire-se quase sem se dar conta, desde a mais tenra infância e,
apesar das suas limitações, é um saber fundamental, sem o qual não
conseguiríamos nos orientar na nossa vida cotidiana.
Sendo
assim, torna-se facilmente compreensível que todos os homens possuam senso
comum, mas este varia de sociedade para sociedade e, mesmo dentro duma mesma
sociedade, varia de grupo social para grupo social ou, também, por exemplo, de
grupo profissional para grupo profissional.
Mas,
sendo imprescindível, o senso comum não é suficiente para nos compreendermos a
nós próprios e ao mundo em que vivemos, pois se na nossa reflexão sobre a nossa
situação no mundo, nos ficarmos pelos dados do senso comum, por assim dizer os
dados mais básicos da nossa consciência natural, facilmente caímos na ilusão de
que as coisas são exatamente , aquilo que parecem, nunca nos chegando a
aperceber que existe uma radical diferença entre a aparência e a realidade.
Somos, imperceptivelmente, levados a consolidar um conjunto solidário de
certezas, das quais, como é óbvio, achamos ser absurdo duvidar (chama-lhes
"crenças silenciosas"): temos a certeza de que existimos, de que as
coisas que nos rodeiam existem, que aquilo que nos acontece é irrefutável, etc...
Contudo
essas certezas são questionáveis, pois se baseiam em aparências. E há muitas
aparências que se nos impõem com uma força quase irresistível, por exemplo:
aparentemente o Sol move-se no céu (não é verdade que esta foi uma convicção
aceita, durante muitos séculos, pela comunidade científica?). Podemos mesmo
aprender a medir o tempo a partir desse movimento aparente. Mas, na realidade,
esse movimento aparente do Sol é gerado pelo movimento de rotação da terra.
Mas
esta distinção entre aparência e realidade, da qual não nos podemos libertar
por causa da nossa natureza (ou melhor, da constituição dos nossos órgãos
sensoriais e do nosso sistema nervoso), está dependente da diferença que existe
entre o conhecimento sensível e o conhecimento racional.
O
conhecimento que temos através dos sentidos é forçosamente incompleto e
filtrado, pois os nossos órgãos receptores só são estimulados por determinados
fenómenos físicos, deixando de lado um campo quase infinito de possíveis
estímulos (por exemplo, os nossos olhos não captam quer a radiação
infravermelha, quer a radiação ultravioleta, ao passo que há seres vivos que o
podem fazer, o mesmo se passando com os ultra-sons). É portanto inquestionável
que não conhecemos, sensorialmente, a realidade tal como ela é.
Sendo
assim, os sentidos parece que nos enganam, pois os dados que nos fornecem
acerca da realidade são insuficientes para alcançarmos um conhecimento
verdadeiro, ou objetivo, da mesma.
Por
isso a Razão permite-nos alcançar conhecimentos que nunca poderíamos alcançar
através dos sentidos.
As principais características do
senso comum
Caráter empírico
– o senso comum é um saber que deriva diretamente da experiência quotidiana,
não necessitando, por isso de uma elaboração racional dos dados recolhidos
através dessa experiência.
Caráter acrítico
– não necessitando de uma elaboração racional, o senso comum não procede a uma
crítica dos seus elementos, é um conhecimento passivo, em que o indivíduo não
se interroga sobre os dados da experiência, nem se preocupa com a possibilidade
de existirem erros no seu conhecimento da realidade.
Caráter assistemático
– o senso comum não é estruturado racionalmente, tanto ao nível da sua
aquisição, como ao nível da sua construção, não existe um plano ou um projeto
racional que lhe dê coerência.
Caráter ametódico
– o senso comum não tem método, ou seja, é um saber que não segue nenhum
conjunto de regras formais. Os indivíduos adquirem-no sem esforço e sem estudo.
O senso comum é um saber que nasce da sedimentação casual da experiência captada
ao nível da experiência quotidiana.
Caráter aparente ou ilusório
– Como não há a preocupação de procurar erros, o senso comum é um conhecimento
que se contenta com as aparências, formando por isso, uma representação
ilusória, "deturpada e falsa", da realidade.
Caráter coletivo
– O senso comum é um saber partilhado pelos membros de uma comunidade,
permitindo que os indivíduos possam cooperar nas tarefas essenciais à vida
social.
Carácter subjetivo
– O senso comum é subjetivo, porque não é objetivo: cada indivíduo vê o mundo à
sua maneira, formando as suas opiniões, sem a preocupação de as testar ou de as
fundamentar num exame isento e crítico da realidade.
Caráter superficial
– O senso comum não aprofunda o seu conhecimento da realidade, fica-se pela
superfície, não procurando descobrir as causas dos acontecimentos, ou seja, a
sua razão de ser que, por sua vez, permitiria explicá-los racionalmente.
Caráter particular
– o senso comum não é um saber universal, uma vez que se fica pela aquisição de
informações muito incompletas sobre a realidade ( por isso também se diz que
ele é fragmentário ), não podendo, assim, fazer generalizações fundamentadas.
Caráter prático e utilitário
– O senso comum nasce da prática quotidiana e está totalmente orientado para o
desempenho das tarefas da vida quotidiana, por isso as informações que o compõem
são o mais simples e diretas possível.
Texto
complementar:
"O
senso comum é um saber que está presente em todas as sociedades e em todos os
indivíduos (todos são dotados de senso comum). Mas o senso comum é plural,
variando de sociedade para sociedade e modificando-se com o decorrer dos
tempos.
O
senso comum, enquanto princípio de sociabilidade, constitui o acordo mínimo
exigível para que qualquer sociedade funcione como tal; ele assegura a coesão
indispensável para que se possa falar de comunidade e de vida coletiva.
Ele
é princípio de equilibração, essencial a toda a sociedade, entre a dimensão do
indivíduo e a dimensão do coletivo ou dito de outra forma, da sujeição do
indivíduo às normas da vida coletiva.
O
senso comum é também o senso tradicional. Costumamos dizer: "sempre foi
assim" para justificar um procedimento que nos criticam. ( comentar )
O
senso comum transporta e naturaliza um conjunto de convenções implícitas ou
intrínsecas ao agir humano coletivamente dimensionado. Neste sentido, ele é
conducente ou solidário de uma aceitação que assinala uma passividade inerente
e indispensável face às exigências práticas e pragmáticas da vida. Como se
adquire o senso comum? Ele é fruto da aprendizagem e educação que espontânea
e/ou institucionalmente recebemos enquanto membros de uma comunidade."
(comentar )
José
Manuel Girão e Rui Alexandre Grácio
Fonte:
www.espanto.info
ATIVIDADE
A
partir da leitura do texto sobre Senso Comum, responda:
1°)
O que você entende por Senso comum? Cite
um exemplo.
2º)
Quais são suas características? Cite um ditado popular.
3º)
Leia o Texto Complementar e comente com suas palavras, as frases que estão em
destaque.
4º)
Senso comum e ciência são conhecimentos contraditórios? Explique.
PARA BAIXAR ESSA APOSTILA CLIQUE EM
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