APOSTILA-SOCIOLOGIA-ORGANIZAÇÃO
SOCIAL DO TRABALHO
CENTRO TERRITORIAL DE EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL DA BACIA DO PARAMIRIM
ENSINO PROFISSIONAL SUBSEQUENTE
TÉCNICO EM ADMINISTRAÇAO
MÓDULO IV
TURNO: NOTURNO
DISCIPLINA:
SOCIOLOGIA-ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO
APOSTILA COMPILADA
ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO
PROFESSOR: JOSELINO AZEVEDO
MACAÚBAS – BA
2018
Sociologia do trabalho
A Sociologia do trabalho é
o ramo da Sociologia voltado ao estudo das relações sociais no
mundo do trabalho - a princípio, incluindo
basicamente empresas e sindicatos - e às implicações sociais da relação entre
trabalho e técnica.
A palavra "trabalho"
evoluiu da palavra latina Tripalium, castigo que se dava aos escravos preguiçosos
e, historicamente, o trabalho foi considerado como uma atividade depreciável.
Os gregos da Idade de Ouro pensavam
que só o ócio criativo
era digno do homem livre. A escravidão foi
considerada pelas mais diversas civilizações como a forma natural e mais
adequada de relação laboral. A ética protestante vem
atribuir um valor positivo ao trabalho, considerando-o
não como punição mas como oferenda a Deus. A partir de meados do século XIX, a servidão,
em suas várias formas, estará extinta na maior parte dos países ocidentais,
sendo substituída pelo trabalho assalariado, socialmente valorizado.
As transformações do mundo do
trabalho - do artesanato ao trabalho industrial com grandes máquinas e
finalmente ao trabalho imaterial - bem como suas relações com as mudanças
sociais na família, na cultura e na política constituem objeto de permanente
interesse desta área do conhecimento. Já a partir das últimas décadas do século XX,
a introdução de novos temas - notadamente os impactos das novas tecnologias, as
novas formas de organização da produção, a obsolescência de várias profissões
anteriormente valorizadas, a flexibilização das relações de trabalho e o
acirramento dos mecanismos de exclusão -
e de novas formas de abordagem, com ênfase na transdisciplinaridade, abrem novas perspectivas
para a investigação sociológica crítica.
Sociologia industrial
Ramo da Sociologia que interessa-se
pelos fenômenos sociológicos relacionados com o trabalho.
A Sociologia Industrial surgiu devido à necessidade de estudar-se as
mudanças estruturais que ocorreram, não apenas, nas organizações de trabalho
como também na sociedade.Vem a surgir após a Revolução Industrial - que teve
a Inglaterra como sua progenitora, muito embora tal estudo da sociologia tenha
vindo a surgir nos Estados Unidos.
Divisão do trabalho
Dá-se o nome de divisão do
trabalho à especialização de funções que permite a cada pessoa criar, usar
e acentuar, com máxima vantagem, qualquer diferença peculiar em aptidões e
recursos. Tem como consequência o trabalho cooperativo
em tarefas e papéis específicos e delimitados, com o objetivo de aumentar a
eficiência da produção. Historicamente, a emergência de uma divisão do
trabalho cada vez mais complexa está associada ao aumento do comércio,
ao surgimento do capitalismo e à complexidade dos processos de industrialização. Posteriormente, a divisão do
trabalho atingiu o nível de uma prática gerencial de bases científicas com os
estudos de tempo e movimento associados ao Taylorismo.
Na história da espécie humana, a
primeira divisão do trabalho ocorreu entre homens e mulheres, mas tornou-se
ainda mais sofisticada com o advento da agricultura e
a surgimento da civilização.
A divisão do trabalho é uma
característica fundamental das sociedades humanas,
devido ao fato de que os seres humanos diferem uns dos outros quanto a suas
habilidades inatas ou adquiridas. Em um certo estágio do desenvolvimento de
suas comunidades, os indivíduos percebem que podem satisfazer melhor as suas
necessidades ao se especializar, ao se associar e ao trocar, em vez de
produzir, cada um de maneira autárquica, aquilo que precisa consumir.
À semelhança dos indivíduos em
sociedade, as diversas sociedades humanas também se especializam. Modernamente,
alguns se dedicam a estudar a chamada divisão internacional do trabalho,
ocorrida entre países.
Divisão Social do Trabalho
Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica
Tal divisão está ancorada nos dois
tipos de consciência que têm lugar nos seres sociais, a consciência coletiva e
a individual. Para Durkheim, o desenvolvimento de uma é exclusivo em relação a
outra, sendo o processo de predominância da consciência coletiva em relação à
individual o processo de evolução das sociedades, ou de sua complexificação, como
também denomina o autor.
A complexificação define uma mudança
em que os diversos corpos sociais, primitivamente indiferenciados no seu
interior, fragmentam-se estabelecendo trocas com outros grupos e definindo
diferentes funções no seu interior. As sociedades primitivas seriam aquelas em
que a consciência coletiva se encontra desenvolvida de modo absoluto. Todos os
indivíduos que compõem uma sociedade neste estágio detêm as mesmas
representações coletivas, as mesmas finalidades, comungando dos mesmos valores.
O trabalho necessário para atender suas necessidades encontra-se parcamente
diferenciado, ou diferenciado apenas entre os sexos. Neste estágio a
consciência individual é nula ou quase nula.
Isto permite ao autor sustentar o
argumento de que não se trata de sociedades mais ou menos coercitivas, pois
onde não se desenvolveu a consciência individual, não se pode coibi-la.
Durkheim ainda argumenta que nestas sociedades o indivíduo, e/ou um pequeno
séquito dentro delas, mais facilmente rompe e deserda da mesma, pois contem em
si o conjunto das representações que definem o todo social e por isso está apto
a cumprir todas as funções necessárias a sua sobrevivência.
O que caracteriza o desenvolvimento
das sociedades modernas para Durkheim seria a diferenciação social, a
complexificação das funções exercidas por um corpo social. A isso encontra-se
vinculada a predominância da consciência individual com relação à coletiva.
Entretanto, o argumento durkheimiano é contrário ao individualismo do
liberalismo econômico que pressupõe a ação econômica como o fundamento da
sociedade e o único substrato possível de uma moral que não tolha o indivíduo.
Durkheim vê neste argumento um erro
segundo sua lógica funcionalista. Para o autor, mesmo a consciência individual
é formada socialmente. A consciência levada a ver o indivíduo como desprovido
de influências de seu meio social é somente incapaz de percebê-la, pois esta é
profunda e constitui seu próprio processo formativo. Desse modo é que a
diferenciação social, a complexificação da sociedade, não trata de romper os
laços sociais, mas de transformá-los. A divisão do trabalho social não provoca
segundo o autor, senão em suas formas patológicas, a desintegração da sociedade
mas um novo tipo de solidariedade.
Sendo mecânica a solidariedade das
sociedades primitivas, nas sociedades evoluídas a solidariedade é orgânica. O
processo de divisão do trabalho forma indivíduos que são cada vez mais capazes
de perceber o quanto dependem dos outros. Por isso a consciência individual,
para Durkheim, não é sinônimo de individualismo e/ou egoísmo, mas de uma
autoconsciência formada socialmente. É sim possível diferenciar-se, assumir
gostos particulares, desempenhar diferentes profissões, mas na medida em que
estas possibilidades proliferam, mais estreita se torna a complementariedade
proveniente das diversas atividades exercitadas pelos indivíduos no corpo
social, pois quanto mais especializadas as funções, maior o seu número.
A Organização Social do Trabalho no Estado Capitalista
Ivone Garcia Barbosa & Telma Aparecida Teles
Martins Silveira
A década de 1990, no Brasil, foi
marcada por um conjunto de transformações econômicas e sociais, impostas pelo
reordenamento das relações de produção, que acarretaram e exigiram a
reestruturação do Estado, enquanto um dos alicerces que estruturam o sistema
capitalista.
Uma análise sistemática desse período
histórico permite-nos perceber a essência do fenômeno subjacente à sua
aparência. A articulação entre as políticas públicas e o sistema de
produção capitalista acaba por dissimular as relações sociais. De fato, pelo
que pudemos apreender da concretude dessas relações, essa aparente
desvinculação é induzida.
No plano econômico e social, são
implementadas reformas significativas caracterizadas por políticas de diferenciação,
de diversificação institucional e, principalmente, de privatização da esfera
pública. No conjunto, tais propostas visam à redução da obrigação do Estado nas
ações políticas e sociais nos campos da saúde, habitação, educação e
previdência social, configurando o chamado Estado Mínimo. Essa
reestruturação muda drasticamente a relação capital-trabalho, criando um
desemprego estrutural, favorecendo o fortalecimento de grandes corporações e
opostamente, elevando, nessa lógica, o trabalho precarizado, terceirizado
(AZEVEDO, 1997); (BIANCHETTI, 2001).
Esse argumento ideológico ganha força
na sociedade brasileira com a bandeira da retomada do desenvolvimento
econômico, sob o discurso de modernização e racionalização do Estado
com o objetivo de superar as mazelas do mundo contemporâneo – desemprego,
hiperinflação, redução do crescimento econômico – tendo como foco o desmonte
das políticas públicas.
As relações do homem com a natureza
se constituem pela busca da preservação das funções vitais de sobrevivência e
reprodução da espécie, em níveis individual e societal. A teoria marxista
mostra que os homens se constituem sujeitos pelas relações que estabelecem com
o meio, humanizando-se a partir daí, e buscando, por meio da técnica,
transformar a si mesmo e ao mundo num movimento dialético. Nesse sentido, Marx
e Engels (2002) mostram que:
[...] eles próprios [os homens]
começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus
meios de existência, e esse passo à frente é a própria consequência de sua
organização corporal. Ao produzir seus meios de existência, os homens produzem
indiretamente sua própria vida material (MARX; ENGELS, 2002, p. 10-11).
O que os homens produzem depende da
realidade material, não se reduzindo à simples busca da sobrevivência da
espécie e sim a uma perspectiva mais complexa, pois a maneira de manifestar a
sua vida representa exatamente o que eles são, coincidindo diretamente com sua
produção: “[...] o que os indivíduos são depende, portanto, das condições
materiais da sua produção” (MARX; ENGELS, 2002, p. 12).
Entretanto, no atual sistema
produtivo capitalista, perde-se a condição de atividade vital do trabalho e
assume-se a característica de trabalho alienado, fragmentado, cuja ocorrência é
subjacente a um processo histórico construído pelas relações sociais de
produção, que assume uma forma específica na propriedade privada. Acreditamos,
então, que é na expropriação do outro que o homem não mais se reconhece no
trabalho que desenvolve.
Manacorda (1991) pontua que o
crescimento do capitalismo acarretou um desenvolvimento econômico contraditório
até a formação da grande indústria que subsumiu (incluiu) o trabalho humano
como manifestação de si mesmo ao capital retirando da divisão do trabalho a
última aparência do seu caráter pessoal.
O trabalho modifica-se no capitalismo
gerando uma relação contraditória entre o trabalhador e sua atividade “[...]
que não é, de modo algum, natural, mas que contém, já, em si uma específica
determinação econômica” (MANACORDA, 1991, p. 51).
A subordinação estrutural do trabalho
ao capital não é um processo mecânico tampouco harmônico, é sim um processo
conflituoso, historicamente constituído nas relações sociais, tendo como base a
divisão hierárquica do trabalho. Essa hierarquia, por sua vez, acaba afetando a
percepção que o próprio trabalhador tem de si e do processo (GRAMSCI, 1989).
O capitalismo na sua organização
estrutural constrói a ideia da igualdade de direitos, liberdade e harmonia na
relação da classe que vive do trabalho com a classe que detêm os meios e os
instrumentos de produção da realidade material. Ora, como isso se dá, se as
relações de força e de poder entre capital e trabalho são estruturalmente
desiguais, contraditórias e conflitantes, à medida que se origina da dominação
do capital e exploração do trabalhador para a retirada da mais-valia que é onde
se localiza o lucro do dono do capital. A hierarquização é, pois, um dos
fundamentos desse processo.
A especialização do trabalhador é
crucial no modo de produção capitalista que se acirra cada vez mais no modelo
neoliberal. Tal modelo tem como ideal a individualidade, elemento primordial da
constituição de uma sociedade mais “democrática”, que se caracteriza por
sujeitos desiguais.
A desigualdade entre indivíduos,
segundo esse ideário, permite o equilíbrio e a divisão de funções para o
desenvolvimento das características específicas, o que possibilita o
“desabrochar” dos dotes, por parte de cada um. O individualismo, dessa ótica,
tem como pressuposto de que cada homem deve ter direito à sua propriedade e a
seus pertences, mas, para isso, é preciso lutar e investir no “próprio capital”
para atingir o fim almejado. Assim, a defesa da propriedade privada em
detrimento do público se acentua na medida em que esse indivíduo é
automaticamente – segundo essa ideologia – responsável pelo seu sucesso ou por
seu fracasso social. A igualdade se encontra, portanto, nas oportunidades,
desde que suas habilidades pessoais sejam exploradas e não nas relações
sociais.
Na busca por constante acumulação de
capital, o capitalista sacrifica a classe trabalhadora, porém, arremete à
estagnação do próprio modo de produção, à medida que, conforme Frigotto (1999)
há uma superprodução sem consumo. Desse modo, a produção capitalista
apresenta crises cíclicas, o que exige a reestruturação produtiva e dos
processos que possibilitaram o aparecimento dessas crises, a fim de se
manter a manutenção do capital pela classe que detém os meios de produção.
Assim, observamos que “[...] a crise
é um elemento constituinte, estrutural do movimento cíclico da acumulação
capitalista, assumindo formas específicas que variam de intensidade no tempo e
no espaço” (FRIGOTTO, 1999, p. 62). Essa realidade se diferencia e muito
da ideologia apregoada pelos neoliberais que centram na premissa de que a crise
é devido a alta interferência do Estado na economia, nas despesas sociais e na
garantia dos direitos do trabalhador.
Cabe ressaltarmos que esse processo e
suas relações não ocorrem em todos os lugares do mesmo modo, pois “[...]
dependem do estágio de desenvolvimento em que cada uma delas se encontra no que
concerne às forças produtivas, à divisão do trabalho e às relações internas”.
(MARX; ENGELS, 2002, p. 11). Na concepção dos autores, é necessário
compreendermos o desenvolvimento do modelo de produção capitalista nos lugares
em que ele parece mais avançado para, também, entendermos como ele se articula
nos países chamados em desenvolvimento, contribuindo com a manutenção da
desigualdade e, ao mesmo tempo, com a acumulação/concentração de renda
descomunal.
O movimento de ressignificação do
capital apresenta uma nova forma de reestruturação da sua produção, diferindo
do modelo taylorista e fordista que se consolidaram ao longo do século XX,
tendo como elementos constitutivos a produção em massa de mercadorias pela
linha de montagem com que se concretizava pela produção homogeneizada e pela
estrutura verticalizada (FRIGOTTO, 1999); (ANTUNES, 2000).
Como forma de aperfeiçoamento dos
outros dois modelos produtivos, o modelo toyotista de produção, se dá na
fábrica visando ao controle dos tempos e movimentos (taylorismo) a fim de se
diminuir o desperdício e aumentar-se o ritmo de trabalho que se efetiva no
trabalho fragmentado e parcelado da produção em série, cujo movimento
repetitivo de atividades é cada vez mais rápido (fordismo), resultando
diretamente num trabalho coletivo, e convertendo, totalmente, o trabalhador ao
processo de produção capitalista.
A linha de produção se consolidava
num processo rígido de trabalho articulando-se entre si. Esse processo de
produção em série unia os trabalhadores num mesmo ritmo e tempo necessários
para a execução das tarefas. Essa forma de produção se caracteriza também pela
divisão entre elaboração e execução, pois ao trabalhador bastaria executar as
ações impostas pela máquina, enquanto para o trabalhador intelectual caberia
pensar o como fazer. Esse tipo de produção caracteriza-se:
[...] pela mescla da produção em
série fordista com o cronômetro taylorista [...] suprimindo a dimensão
intelectual do trabalho operário, que era transferida para as esferas da
gerência científica. A atividade de trabalho reduzia-se a uma ação mecânica e
repetitiva (ANTUNES, 2001, p. 37).
Hobsbawm (1995) esclarece que a
partir da década de 1970 observou-se a mudança nos modelos produtivos
tayloristas e fordistas no modo de produção capitalista, cujo objetivo era uma
rearticulação do capital a fim de se enfrentar as exigências da economia e do
consumo. O autor comenta esse processo que denominou fim da Era de Ouro.
O novo método, iniciado pelos
japoneses, e tornado possível pelas tecnologias da década de 1970, iria ter
estoques muito menores, produzir o suficiente para abastecer os
vendedores just in time (na hora), e de qualquer modo com uma
capacidade muito maior de variar a produção de uma hora para a outra, a fim de
enfrentar as exigências de mudança (HOBSBAWM, 1995, p. 394).
Percebemos, no fim da Era de Ouro do
capitalismo, um movimento tecnológico acelerado, mas, ao mesmo tempo, ocorre a
destruição de postos de trabalho que nunca mais seriam reconstruídos, não é
simplesmente cíclica, mas é estrutural, pois “[...] os empregos perdidos nos
maus tempos não retornariam quando os tempos melhoravam: não voltariam jamais”
(HOBSBAWM, 1995, p. 403). Essa destruição de campos de trabalho ocorreu por
causa de vários fatores, mas principalmente em face da nova divisão
internacional do trabalho que transferiu indústrias de países altamente
desenvolvidos para outros países.
Na década de 1990, com o
desenvolvimento de uma alta tecnologia, o capital rompe barreiras,
possibilitando negociações sem o intermédio do Estado, definindo-se como a
globalização da economia que tem como cenário as seguintes características:
[...] o crescimento das atividades
internacionais das firmas e dos fluxos comerciais; ampla mudança da base
tecnológica [...] reordenamento dos mercados [...]; intensificação da
circulação financeira, caracterizada pela expansão na mobilidade e na
intermediação do capital internacional; predominância das trocas ditas
intra-setoriais; reorganização dos grupos industriais em redes de firmas
(CARCANHOLO; CARCANHOLO; MALAGUTI, 2002, p. 16).
Nessa perspectiva, há uma
intensificação nas relações entre os diversos países no que tange ao setor
produtivo e aos fluxos comerciais e financeiros. O novo modelo de
reestruturação produtiva e ideário político se apresentam como a única forma de
possibilitar de fato um êxito ao capital. A globalização assume a partir daí
característica de elemento natural e irreversível.
Ianni (1998) pontua que o ideário
ocidental capitalista se torna uma marca forte também nas culturas de todas as
nações da Europa, América Latina, África, Ásia, Oceania, pois prega que tudo
que é social se moderniza, ou irá se modernizar no molde ocidental, com o
objetivo de “[...] secularizar, individualizar, urbanizar, industrializar,
mercantilizar, racionalizar” (IANNI, 1998, p. 77). Essa modernização se espalha
por todo o globo, generalizando condutas, padrões sociais e comerciais,
coexistindo num mesmo espaço e tempo com outras formas de “[...] organização da
vida e trabalho... de forma mais ou menos tensa ou pacificamente, mas em geral
predominando” (IANNI, 1998, p. 77).
O autor mostra, ainda, que esse
processo está ligado diretamente à ideia do capitalismo como única forma
civilizatória que possibilita o desenvolvimento, apresentando-se como um
elemento superior e inexorável. Esse movimento, como aponta o autor, envolve a
internacionalização do capital que rompe “[...] fronteiras geográficas, regimes
políticos, culturas e civilizações”. Além disso, o poder dado ao
mercado implica numa reestruturação do Estado, numa “[...] internacionalização
das diretrizes relativas à desestatização, desregulamentação, privatização,
abertura de fronteiras” (IANNI, 1998, p. 48-49).
Nessa ótica, o Estado deve ser mínimo a
fim de não intervir na lógica do mercado, o qual é considerado auto regulador,
atribuindo o sucesso do progresso e da modernização à economia. Isso
caracteriza a postura político-ideológica neoliberal, que resulta de profundas
transformações econômicas, políticas e sociais que têm como princípio a
liberação do Estado em relação à ordenação do mercado e de compromissos
sociais. Essa concepção, apesar de se basear no liberalismo clássico, apresenta
algumas diferenças no que diz respeito à liberdade, pois, nesse modelo, a
liberdade é regida pela economia das grandes organizações, sem o conteúdo
político democrático proposto pelo liberalismo clássico (FRIGOTTO, 1999);
(BIANCHETTI, 2001). Retoma-se, então, as bases do liberalismo reforçando a
ideia de mercado livre.
As ações do Estado no que se refere
às políticas sociais no modo de produção capitalista têm gerado críticas.
Críticas essas gestadas nas próprias crises do modo de produção capitalista. Ao
mesmo tempo em que o Estado é confrontado, ele busca formas de sobrevivência a
essas crises e a renovação das suas políticas sociais.
Essa relação do Estado com as classes
sociais se dá da seguinte forma: de um lado, tem-se uma classe que luta por
direitos sociais dos quais foram privadas pela forma de opressão que se
vivencia no modo de produção capitalista. De outro, há a classe hegemônica do
grupo monopolista a qual objetiva a manutenção da organização econômica e
social que se viabiliza na divisão de classes. Os interesses opostos se
confrontam na realidade social tendo, então, o Estado que buscar o consenso,
mas sempre mantendo o interesse da classe dominante. Como afirma Poulantzas
(2000), desde a ascensão do modo de produção capitalista ocorre o seguinte:
O Estado baliza desde então o campo
de lutas, aí incluídas as relações de produção; organiza o mercado e as
relações de propriedade; institui o domínio político e instaura a classe
politicamente dominante; marca e codifica todas as formas de divisão social do
trabalho, todo o real no quadro referencial de uma sociedade dividida em
classes (POULANTZAS, 2000, p. 37).
Convém destacarmos que a
reestruturação produtiva mantém a acumulação do capital convertendo o
neoliberalismo numa ideologia forte que, de acordo com Fiori (2002, p. 75),
mantém-se como pensamento único indo além do conteúdo econômico e
apresentando-se como “um furor ideológico de moderno dogmatismo”.
Transforma-se, então, num “consenso mundial”.
Referências bibliográficas
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afirmação e a negação do trabalho. 4 ed. São Paulo: Boitempo editorial, 2001.
AZEVEDO, Janete M. Lins. A educação como política pública. Campinas-SP:
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BARBOSA, Ivone Garcia; SILVEIRA, Telma Aparecida Teles Martins. A
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BIANCHETTI, Roberto. G. Modelo neoliberal e políticas educacionais.
3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 56).
CARCANHOLO, Reinaldo; CARCANHORLO, Marcelo; MALAGUTI, Manoel.
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FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. 3. ed.
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HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX 1914-1991.
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. (Tradução: Marcos Santarrita)
IANNI, Otávio. Teorias da globalização. 5 ed. Rio de Janeiro:
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MANACORDA, Mario Alighieri. Marx e a pedagogia moderna. São
Paulo-SP: Cortez/Autores associados, 1991MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A
ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
POULANTZAS, Nicos. Estado, poder e socialismo. 4 ed. São Paulo:
Graal editora, 2000.
OBS:
apostila retirada do site http://blogdabethblue.blogspot.com.br/2017/08/centroterritorial-de-educacao.html,
acessado no dia 27/02/18, e será utilizada somente com a finalidade
Didático-pedagogica